Pesquisa comprova que participação dos pais é essencial para a linguagem de crianças com autismo

Os pais podem ajudar a criança com autismo a se comunicar mais

A ideia de levar o seu filho ao consultório do fonoaudiólogo ou ao profissional especializado na promoção das habilidades de comunicação de pessoas com autismo e esperar do lado de fora, sem saber o que se passa na sessão, apenas torcendo para que o profissional tenha sucesso, faz parte do passado. Estudos das últimas duas décadas têm comprovado a eficácia de uma intervenção precoce e da parceria entre profissionais e familiares de crianças com autismo na promoção do desenvolvimento. Os pais são hoje uma figura-chave no programa de desenvolvimento da criança.

A aprendizagem no dia a dia

Na primeira infância, as crianças com desenvolvimento típico e atípico adquirem suas habilidades no dia a dia, nas interações prazerosas com os pais, nas brincadeiras divertidas com os familiares, na hora do banho, na hora das refeições, na historinha que é contada na hora de dormir, nas canções que são entoadas pela família, no programa de TV que é assistido junto com os familiares, nos passeios ao parque, praia, pracinha da cidade. Todos esses momentos se apresentam como oportunidades para o crescimento e desenvolvimento. Por que investir somente nas poucas horas de semana que a criança tem com o terapeuta e não aproveitar esses momentos com os familiares?

Muitos pais têm o receio de “atrapalhar” o desenvolvimento da criança com diagnóstico do autismo e preferem então “não interferir” ou “não participar” no tratamento proposto pelos profissionais da criança. Mas as pesquisas mostram que, com o treinamento oferecido por profissionais, os pais podem ser grandes promotores do desenvolvimento de habilidades e do bem-estar de seus filhos. Pais e profissionais podem colaborar com ótimos resultados!

A pesquisa sobre intervenções de linguagem aplicadas por pais

Uma meta-análise(1) – estudo de outros estudos – publicada no American Journal of Speech-Language Pathology compilou e avaliou os dados de 18 estudos de intervenções de linguagem aplicadas por pais de crianças entre 18 e 60 meses com dificuldades de comunicação, inclusive crianças com diagnósticos do espectro do autismo.

Em todos os estudos avaliados por Megan Roberts e Ann Kaiser, pesquisadoras da Vanderbuilt University, os pais receberam treinamento de profissionais sobre como aplicar estratégias específicas para a promoção do desenvolvimento da linguagem de suas crianças. As crianças nos grupos de controle não participaram de terapia; participaram apenas de terapia com profissionais de linguagem; ou receberam outros tipos de serviço da comunidade.

Os resultados da meta-análise indicam que as intervenções de linguagem aplicadas por pais são uma abordagem eficaz para as intervenções precoces de linguagem dirigidas a crianças com atraso no desenvolvimento da linguagem.

Estratégias utilizadas pelos pais

A pesquisa cita algumas das principais estratégias que foram ensinadas para os pais e aplicadas por eles com suas crianças nas interações e brincadeiras diárias:

responsividade (responder às tentativas de comunicação mostrando para criança que sua comunicação é válida e útil);
imitação (imitar os gestos, sons, palavras e brincadeiras da criança);
promoção de mais turnos comunicativos das crianças (alimentar a comunicação/conversa com contribuições interessantes para a criança);
modelagem de palavras e sentenças (dar um exemplo claro de que palavra ou sentença a criança poderia usar na situação para comunicar a mensagem);
expansão de linguagem baseada nos interesses da criança (falar/brincar sobre tópicos do interesse da criança);
preparação ambiental (manipular o ambiente de forma a incentivar a comunicação, por exemplo: se a criança gosta de blocos de montar, os pais podem dar alguns blocos para a criança, deixar o restante numa prateleira fora do alcance, porém à vista, aguardar a criança pedir mais e prontamente dar mais blocos a ela respondendo à comunicação);
pausas (oferecer uma ação motivadora para a criança e pausar, por exemplo: fazer cócegas, pausar e aguardar a criança comunicar que quer mais);
solicitação de fala (quando a criança claramente quer algo os pais podem pedir que ela fale o que deseja. Podem inclusive modelar a fala para a criança);
reforços naturais (gratificações intrinsecamente ligadas à comunicação, por exemplo: a criança pede para a mãe abrir um pote transparente, a mãe abre e a criança pega de dentro do pote um de seus brinquedos favoritos);
dicas gestuais/visuais (por exemplo: gestos dos pais na direção do objeto de desejo da criança; símbolos, figuras ou palavras escritas que representam o objeto ou ação desejada pela criança).

Resultados

As estratégias utilizadas pelos pais levaram ao aprimoramento das seguintes habilidades de comunicação das crianças:
comunicação receptiva (o quanto a criança compreende o que os outros comunicam);
comunicação expressiva verbal e não-verbal (como a criança fala, gesticula e usa expressões faciais para se comunicar);
frequência de comunicação;
vocabulário;
gramática.

Os pais apresentaram a mesma eficácia que os profissionais especializados em linguagem na promoção do desenvolvimento das habilidades citadas acima. E a eficácia dos pais foi ainda maior que a dos profissionais para auxiliar suas crianças a desenvolver a comunicação receptiva e a gramática!

Recomendações do estudo

No final do artigo, o estudo oferece algumas recomendações baseadas nos resultados obtidos:
as intervenções devem focar em interações sociais comunicativas entre pais e crianças;
• os pais devem receber treinamento para aumentar a utilização de formas linguísticas específicas através de modelagens e expansões da linguagem da criança;
• os pais devem receber treinamento em casa nas suas rotinas diárias;
• intervenções aplicadas por pais podem ser eficazes para crianças com vários níveis de habilidades intelectuais e de linguagem;
• o treinamento dos pais por parte de profissionais cerca de uma vez por semana pode promover o desenvolvimento de linguagem das crianças.

Parceria entre profissionais e pais

A Inspirados pelo Autismo investe no treinamento de pais como chave para a promoção do desenvolvimento e do bem-estar de pessoas com diagnósticos do espectro do autismo. Os pais podem ser uma poderosa fonte de apoio para as crianças. Os pais já nutrem um amor incondicional por seus filhos e os conhecem como ninguém. Se oferecemos as ferramentas para que os pais aproveitem ao máximo as oportunidades de aprendizagem presentes no dia a dia com seus filhos, nossas crianças podem vivenciar uma aceleração no desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais, cognitivas e motoras. Nos quase 20 anos de experiência de nossa equipe, temos visto a imensa diferença que os pais podem fazer na vida de suas crianças.

Vamos nos unir, pais e profissionais, para inspirarmos juntos nossas crianças a se desenvolver e a crescer felizes!

Criança com autismo brincando - tratamento para o autismoPara conhecer mais sobre a metodologia de trabalho da Inspirados pelo Autismo, visite as seguintes página de nosso site:
Abordagem da Inspirados pelo Autismo, que fala sobre os pilares da metodologia;
Atividades interativas para pessoas com autismo, que contém diversos exemplos de brincadeiras que utilizamos para auxiliar nossas crianças a aprender de forma divertida;
Atividades de vida diária para pessoas com autismo, com exemplos de atividades para o desenvolvimento no dia a dia.

Nossos cursos oferecem estratégias para uma parceria eficaz entre pais e profissionais de saúde e de educação nos 4 Módulos disponíveis. Veja o conteúdo dos cursos para saber como cada curso pode ajudar você, familiar ou profissional:
Módulo 1 – Autismo, interação prazerosa e aprendizagem
Módulo Escola – Educação inclusiva para pessoas com autismo
Módulo 2 – Coordenando um programa de desenvolvimento
Módulo 3 – Metas e atividades interativas para o desenvolvimento de habilidades

Referências

(1)Roberts, M., & Kaiser, A. (2011). The Effectiveness of Parent-Implemented Language Intervention: A Meta- Analysis. American Journal of Speech-Language Pathology, 20, 180-199.