O pensamento social como base para o comportamento social | Inspirados pelo Autismo

O pensamento social como base para o comportamento social

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Na edição atualizada e ampliada do livro “Dez Coisas que Toda Criança com Autismo Gostaria que Você Soubesse”, a autora aprofunda a a discussão do tema da interação social explicando como a pessoa precisa aprender a “pensar socialmente” antes de conseguir comportar-se de acordo com as regras sociais.

Veja a seguir um trecho condensado do capítulo 8 do livro “Dez Coisas que Toda Criança com Autismo Gostaria que Você Soubesse – Edição atualizada e ampliada”, de Ellen Notbohm, com a tradução de Mirtes Pinheiro.

Vamos ser honestos. Crianças com autismo ou síndrome de Asperger são consideradas “esquisitas” pela sociedade. O sofrimento que isso causa, tanto para a criança como para os pais, faz com que estes sintam uma necessidade imensa de “consertar” essa faceta do filho. Se competência social fosse uma função fisiológica, poderíamos desenvolvê-la com medicamentos, nutrição, exercícios ou fisioterapia. Se as crianças com autismo fossem curiosas, extrovertidas e tivessem motivação para aprender, poderíamos incluir inteligência social no currículo escolar.

Em geral, nossos filhos não são assim, e consciência social não é um conjunto de habilidades concretas que podem ser enumeradas. Regras básicas de boas maneiras (por favor e obrigado; use lenço de papel, e não a manga da blusa; espere a sua vez) podem e devem ser ensinadas, qualquer que seja o nível de função da criança, mas aprender a ficar à vontade entre outras pessoas no corre-corre e com as nuanças do dia a dia é infinitamente mais complexo. As habilidades sociais são o produto final de um organismo intrincado de elementos de desenvolvimento que denominamos “pensamento social”.

Assim como todos nós temos de aprender a andar antes de correr, temos de ensinar nossos filhos a “pensar socialmente” para que eles possam comportar-se de acordo com as regras sociais, com base em compreensão e intenção positiva, e não apenas por repetição mecânica ou medo das consequências. O pensamento social desafia o seu filho a incorporar contexto e perspectiva às suas ações – analisar os aspectos físicos, sociais e temporais do seu ambiente, levar em consideração os pensamentos e pontos de vista alheios; usar a imaginação compartilhada para brincar com um amigo; e compreender que os outros têm pensamentos e reações favoráveis ou nem tão favoráveis a ele, baseados no que ele diz e faz. O pensamento social é a fonte da qual se originam os nossos comportamentos sociais, e essa inteligência socioemocional pode desempenhar um papel mais importante no sucesso do seu filho no longo prazo do que a inteligência cognitiva.

O primeiro passo para ensinar uma criança com autismo a pensar socialmente consiste em deixar de lado qualquer pressuposição de que ela será capaz de adquirir sensibilidade social simplesmente ao observar pessoas que têm habilidades sociais, ou de que, de alguma maneira, um dia ela vai superar a sua inabilidade social. Até agora, o nosso sistema educacional tem baseado seus padrões curriculares na pressuposição incorreta de que todas as crianças nascem com o “cérebro social” intacto, ou seja, as áreas do cérebro responsáveis pelo processamento de informações sociais, e também num suposto desenvolvimento progressivo das habilidades sociais. Não faz sentido, e é totalmente injusto para com a criança, reagir às suas gafes sociais com base em tais pressuposições e, depois, culpar seu autismo quando nossas tentativas de ensiná-la não surtirem efeito. O que nossos filhos precisam é que mudemos nossa postura e comecemos a construir a percepção social deles em suas raízes.

Quando dizemos que queremos que nosso filho aprenda habilidades sociais, na verdade estamos almejando algo mais grandioso. Queremos que ele seja capaz de se ajustar ao mundo que o cerca, que seja independente na escola, no bairro, no trabalho e em seus relacionamentos pessoais. Mais do que seguir um livro de regras, ser social é um estado de ser confiante que se desenvolve quando as habilidades de pensamento social são cuidadosamente cultivadas, desde que a criança é pequenininha:

  • Tomada de perspectiva: ser capaz de enxergar e vivenciar o mundo com base em outros pontos de vista, e não no próprio ponto de vista, e de encarar essas diferentes perspectivas como oportunidades para aprender e crescer.
  • Flexibilidade: ser capaz de lidar com mudanças imprevistas na rotina e nas expectativas, conseguir reconhecer que os erros não são um resultado final, mas sim parte do aprendizado e do crescimento e que as decepções são uma questão de grau.
  • Curiosidade: despertar motivação para pensar no “porquê” das coisas – por que alguma coisa existe, por que sua existência é importante, por que outros se sentem da maneira como se sentem e como isso nos afeta e nos interessa.
  • Autoestima: acreditar nas próprias habilidades para se arriscar a tentar novas coisas, ter respeito e amor-próprio para conseguir compreender que os atos e comentários cruéis e irrefletidos por parte de outras pessoas dizem mais sobre elas mesmas do que sobre você.
  • Visão abrangente: entender que pensamento social e consciência social são parte de tudo o que fazemos, quer estejamos ou não interagindo com outras pessoas. Nós lemos histórias e tentamos imaginar a motivação das personagens e prever o que elas farão em seguida. Repassamos mentalmente algumas situações, imaginando se agimos ou não de forma apropriada em determinada ocasião. O seu filho pode lhe dizer: “Eu não ligo para esse negócio de socializar, sou feliz sozinho”. Talvez ele esteja sendo sincero naquele momento, e muita gente realmente prefere a solidão à socialização. Mas também é verdade que algumas crianças adotam uma atitude de displicência para não sofrer, pois elas realmente se importam, mas não têm o conhecimento, as habilidades e o apoio necessários para superar suas barreiras sociais e, dessa maneira, conseguir alcançar suas metas e realizar seus sonhos.
  • Comunicação: compreender que nós nos comunicamos mesmo quando não estamos falando. Michelle Garcia Winner (2008), que cunhou o termo “pensamento social” e é considerada uma das principais vozes nessa área, descreve quatro etapas da comunicação que se desenrolam numa sequência linear, em milissegundos, em geral inconscientemente:
    1. Nós pensamos a respeito dos pensamentos e sentimentos das outras pessoas, bem como dos nossos próprios.
    2. Estabelecemos uma presença física para que as outras pessoas compreendam a nossa intenção de nos comunicar.
    3. Monitoramos com o olhar como as pessoas estão se sentindo, agindo e reagindo ao que está acontecendo entre nós.
    4. Usamos a linguagem para nos relacionar com os outros.

Você reparou que a linguagem só entra na equação da comunicação como uma última etapa? No entanto, é essa etapa que nós, pais e professores, costumamos enfatizar. Se você ensinar apenas a quarta etapa, sem as outras três, deixará seu filho ou aluno mal-equipado, vulnerável e correndo um grande risco de ser menos eficaz e menos bem-sucedido em sua comunicação social.

Tratar a criança como se ela fosse igual aos seus colegas da mesma idade e com desenvolvimento típico, sem um ensino direto e concreto dos conceitos sociais, não vai produzir habilidades de pensamento social. Sem esse ensinamento direto, seu filho chegará à idade adulta com os mesmos problemas de comunicação social. Ensinar seu filho a pensar socialmente e ser sociável consiste em um mosaico de milhares e milhares de pequeninas oportunidades de aprendizado e embates que, devidamente canalizados, se fundirão numa base de autoconfiança. É preciso que você, na qualidade de pai ou mãe, professor ou guia, seja socialmente consciente 110% do tempo, que decomponha a rede de complexidades sociais e lhe ensine as nuanças sociais que ele tem tanta dificuldade de perceber.

“Com um passo de cada vez, chega-se ao topo da montanha”, diz o velho adágio. Um dos livros infantis favoritos do meu filho Connor contava a história de Sir Edmund Hillary e seu guia xerpa, Tenzing Norgay, os primeiros alpinistas a chegarem ao topo do monte Everest. Nós conversamos sobre a controvérsia levantada ao longo dos anos de que um deles teve de colocar o pé no topo da montanha primeiro. Em meio à especulação de que Tenzing chegou ao topo um ou dois passos à frente de Sir Edmund Hillary, que era mais famoso, Jamling, filho de Tenzing, falou à revista Forbes em 2001: “Eu perguntei isso a ele, que disse: ‘Isso não é importante, Jamling. Nós escalamos a montanha como uma equipe’.” Assim como Hillary, seu filho está fazendo sua primeira escalada. Seja seu xerpa, ajude-o a perceber que a vista ao longo do caminho pode ser espetacular.

Baixe aqui o eBook gratuito com o trecho condensado do livro das Dez Coisas.

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8 comentários em “O pensamento social como base para o comportamento social”

  1. Gostaria de conhecer māes que tem altistas na famįlia
    Quero interagir com elas, pois tenho um na família, obrigada

    1. Olá Cida,

      Agradecemos pelo contato e compreendemos o seu desejo de interagir com outras mães de crianças, adolescentes e adultos com autismo.

      Por gentileza, você já tentou contatar grupos de pais pelo Facebook? Sabemos de vários grupos pelo Facebook que proporcionam a troca de ideias. Você pode ver algumas sugestões em nossa página: http://www.inspiradospeloautismo.com.br/foruns-para-pais-e-familiares-de-pessoas-com-autismo/

      Atenciosamente,
      Equipe Inspirados pelo Autismo

  2. maria das graças pinheiro.

    Lindo, gostei, tenho um neto que vai fazer cinco anos no dia 25 de fevereiro, bem dizer, já está com cinco, ele foi diagnosticado como síndrome de asperger, ele não se comunica direito mas se relaciona bem com outras crianças procurando sempre um amiguinho e ele é muito agitado ficando até gago de tão rápido que ele é, não anda só corre realmente muito levado não gosta de receber um não fala com todo mundo mesmo com dificuldade de entendermos e vai em frente as vezes penso que ele só é hiperativo, mas agora que ele está fazendo suas necessidade no vaso e mesmo assim faz rapidinho e fica gritando que já fez, xixi ha muito tempo que ele vai sozinho desde seus três aninhos, mas seu sono é agitado, toma remédio de manhã e de tarde e a noite é outro, os médicos também falaram que ele é hiperativo, graças a Deus ele não é violento é ate bonzinho de mais, eu fico muito na dúvida se ele realmente tem essa síndrome de asperger. Um beijo muito grande pra vocês, vou fazer o possível pra comprar esse livro.

  3. Venceslau dos R.S.Silva

    Parabenizo os tópicos importantes para conviver melhor com o autismo,sou médico e tenho uma neta autista:ma.Eduarda Sampaio Silva,está se sociabilizando paulatinamente;a nossa angustia é averbalização que não existe até o momento;a mesma foi inseminada,geraram 2 embriões a outra Maria Paula com desenvolvimento normal,frequentam a mesma escola;Maria Eduarda,tem acompanhamento neuro pediátrico,TEO,psicologa,fonodiologa e no momento musicoterapia.Estou bastante contente e satisfeito com o que aprendir nêste resumo,estarei comprando passo a passo todos o livros necessário att.Prof.Dr. Venceslau Silva da Universidade Federal da Bahia na cadeira de urologia

  4. Miriam Cruz e Prado

    Interessante. Li também sobre a Teoria da Mente (TOM), que trata da habilidade que desenvolvemos em fazer as leituras sociais e expressões faciais, desde pequenos e que a criança com autismo não tem, o que a leva a uma “cegueira mental” e consequentemente ao desinteresse pelas interações com os outros, resultado da falta neuronal que ocorre.
    Se observarmos um criança neuro típica, vemos como ela curte provocar reações em nós a partir de seus atos, um autista parece não conseguir perceber da mesma forma as reações, devido a tal cegueira mental, e que faz com que ele se interesse mais por formas (objetos), composições e cores, ao invés de pessoas.

  5. Gostei muito,sou mediadora de um aluno autista e surdo, gostaria que alguém com mais experiência pudesse me dar umas dicas de trabalhar, pois ele não conhece libras, e com isso dificulta a comunicação, não sei até que ponto ele me entende, já que devido ao autismo devia totalmente o olhar, consigo muito pouco a sua atenção. Agradeço se alguém já teve alguém conhecido, ou puder me indicar algum livro que possa me auxiliar.

  6. Pingback: Entrevista com Ellen Notbohm, autora do livro Dez Coisas que Toda Criança com Autismo Gostaria que Você Soubesse – Parte 3 - Inspirados pelo Autismo

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