fevereiro 2018 | Inspirados pelo Autismo

Mês: fevereiro 2018

Pesquisa comprova que participação dos pais é essencial para a linguagem de crianças com autismo

Os pais podem ajudar a criança com autismo a se comunicar mais

A ideia de levar o seu filho ao consultório do fonoaudiólogo ou ao profissional especializado na promoção das habilidades de comunicação de pessoas com autismo e esperar do lado de fora, sem saber o que se passa na sessão, apenas torcendo para que o profissional tenha sucesso, faz parte do passado. Estudos das últimas duas décadas têm comprovado a eficácia de uma intervenção precoce e da parceria entre profissionais e familiares de crianças com autismo na promoção do desenvolvimento. Os pais são hoje uma figura-chave no programa de desenvolvimento da criança.

A aprendizagem no dia a dia

Na primeira infância, as crianças com desenvolvimento típico e atípico adquirem suas habilidades no dia a dia, nas interações prazerosas com os pais, nas brincadeiras divertidas com os familiares, na hora do banho, na hora das refeições, na historinha que é contada na hora de dormir, nas canções que são entoadas pela família, no programa de TV que é assistido junto com os familiares, nos passeios ao parque, praia, pracinha da cidade. Todos esses momentos se apresentam como oportunidades para o crescimento e desenvolvimento. Por que investir somente nas poucas horas de semana que a criança tem com o terapeuta e não aproveitar esses momentos com os familiares?

Muitos pais têm o receio de “atrapalhar” o desenvolvimento da criança com diagnóstico do autismo e preferem então “não interferir” ou “não participar” no tratamento proposto pelos profissionais da criança. Mas as pesquisas mostram que, com o treinamento oferecido por profissionais, os pais podem ser grandes promotores do desenvolvimento de habilidades e do bem-estar de seus filhos. Pais e profissionais podem colaborar com ótimos resultados!

A pesquisa sobre intervenções de linguagem aplicadas por pais

Uma meta-análise(1) – estudo de outros estudos – publicada no American Journal of Speech-Language Pathology compilou e avaliou os dados de 18 estudos de intervenções de linguagem aplicadas por pais de crianças entre 18 e 60 meses com dificuldades de comunicação, inclusive crianças com diagnósticos do espectro do autismo.

Em todos os estudos avaliados por Megan Roberts e Ann Kaiser, pesquisadoras da Vanderbuilt University, os pais receberam treinamento de profissionais sobre como aplicar estratégias específicas para a promoção do desenvolvimento da linguagem de suas crianças. As crianças nos grupos de controle não participaram de terapia; participaram apenas de terapia com profissionais de linguagem; ou receberam outros tipos de serviço da comunidade.

Os resultados da meta-análise indicam que as intervenções de linguagem aplicadas por pais são uma abordagem eficaz para as intervenções precoces de linguagem dirigidas a crianças com atraso no desenvolvimento da linguagem.

Estratégias utilizadas pelos pais

A pesquisa cita algumas das principais estratégias que foram ensinadas para os pais e aplicadas por eles com suas crianças nas interações e brincadeiras diárias:

responsividade (responder às tentativas de comunicação mostrando para criança que sua comunicação é válida e útil);
imitação (imitar os gestos, sons, palavras e brincadeiras da criança);
promoção de mais turnos comunicativos das crianças (alimentar a comunicação/conversa com contribuições interessantes para a criança);
modelagem de palavras e sentenças (dar um exemplo claro de que palavra ou sentença a criança poderia usar na situação para comunicar a mensagem);
expansão de linguagem baseada nos interesses da criança (falar/brincar sobre tópicos do interesse da criança);
preparação ambiental (manipular o ambiente de forma a incentivar a comunicação, por exemplo: se a criança gosta de blocos de montar, os pais podem dar alguns blocos para a criança, deixar o restante numa prateleira fora do alcance, porém à vista, aguardar a criança pedir mais e prontamente dar mais blocos a ela respondendo à comunicação);
pausas (oferecer uma ação motivadora para a criança e pausar, por exemplo: fazer cócegas, pausar e aguardar a criança comunicar que quer mais);
solicitação de fala (quando a criança claramente quer algo os pais podem pedir que ela fale o que deseja. Podem inclusive modelar a fala para a criança);
reforços naturais (gratificações intrinsecamente ligadas à comunicação, por exemplo: a criança pede para a mãe abrir um pote transparente, a mãe abre e a criança pega de dentro do pote um de seus brinquedos favoritos);
dicas gestuais/visuais (por exemplo: gestos dos pais na direção do objeto de desejo da criança; símbolos, figuras ou palavras escritas que representam o objeto ou ação desejada pela criança).

Resultados

As estratégias utilizadas pelos pais levaram ao aprimoramento das seguintes habilidades de comunicação das crianças:
comunicação receptiva (o quanto a criança compreende o que os outros comunicam);
comunicação expressiva verbal e não-verbal (como a criança fala, gesticula e usa expressões faciais para se comunicar);
frequência de comunicação;
vocabulário;
gramática.

Os pais apresentaram a mesma eficácia que os profissionais especializados em linguagem na promoção do desenvolvimento das habilidades citadas acima. E a eficácia dos pais foi ainda maior que a dos profissionais para auxiliar suas crianças a desenvolver a comunicação receptiva e a gramática!

Recomendações do estudo

No final do artigo, o estudo oferece algumas recomendações baseadas nos resultados obtidos:
as intervenções devem focar em interações sociais comunicativas entre pais e crianças;
• os pais devem receber treinamento para aumentar a utilização de formas linguísticas específicas através de modelagens e expansões da linguagem da criança;
• os pais devem receber treinamento em casa nas suas rotinas diárias;
• intervenções aplicadas por pais podem ser eficazes para crianças com vários níveis de habilidades intelectuais e de linguagem;
• o treinamento dos pais por parte de profissionais cerca de uma vez por semana pode promover o desenvolvimento de linguagem das crianças.

Parceria entre profissionais e pais

A Inspirados pelo Autismo investe no treinamento de pais como chave para a promoção do desenvolvimento e do bem-estar de pessoas com diagnósticos do espectro do autismo. Os pais podem ser uma poderosa fonte de apoio para as crianças. Os pais já nutrem um amor incondicional por seus filhos e os conhecem como ninguém. Se oferecemos as ferramentas para que os pais aproveitem ao máximo as oportunidades de aprendizagem presentes no dia a dia com seus filhos, nossas crianças podem vivenciar uma aceleração no desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais, cognitivas e motoras. Nos quase 20 anos de experiência de nossa equipe, temos visto a imensa diferença que os pais podem fazer na vida de suas crianças.

Vamos nos unir, pais e profissionais, para inspirarmos juntos nossas crianças a se desenvolver e a crescer felizes!

Criança com autismo brincando - tratamento para o autismoPara conhecer mais sobre a metodologia de trabalho da Inspirados pelo Autismo, visite as seguintes página de nosso site:
Abordagem da Inspirados pelo Autismo, que fala sobre os pilares da metodologia;
Atividades interativas para pessoas com autismo, que contém diversos exemplos de brincadeiras que utilizamos para auxiliar nossas crianças a aprender de forma divertida;
Atividades de vida diária para pessoas com autismo, com exemplos de atividades para o desenvolvimento no dia a dia.

Nossos cursos oferecem estratégias para uma parceria eficaz entre pais e profissionais de saúde e de educação nos 4 Módulos disponíveis. Veja o conteúdo dos cursos para saber como cada curso pode ajudar você, familiar ou profissional:
Módulo 1 – Autismo, interação prazerosa e aprendizagem
Módulo Escola – Educação inclusiva para pessoas com autismo
Módulo 2 – Coordenando um programa de desenvolvimento
Módulo 3 – Metas e atividades interativas para o desenvolvimento de habilidades

Referências

(1)Roberts, M., & Kaiser, A. (2011). The Effectiveness of Parent-Implemented Language Intervention: A Meta- Analysis. American Journal of Speech-Language Pathology, 20, 180-199.

 

Como ajudar pessoas com autismo a lidar com o barulho de fogos de artifício

A equipe da Inspirados pelo Autismo recebeu a seguinte pergunta, ‘Meu filho de 4 anos entra em crise com fogos de artifício. O que posso fazer nesse momento e como posso ajudá-lo a longo prazo?’ Assista ao vídeo com a resposta da psicóloga e consultora da Inspirados pelo Autismo, Giovanna Baú. No vídeo, Giovanna explica sobre dificuldades de processamento sensorial que algumas crianças e adultos com autismo podem ter e dá exemplos de estratégias para ajudar pessoas com autismo a lidar com estes momentos desafiadores das festividades e com barulhos intensos e imprevisíveis.

Se preferir, leia abaixo a transcrição adaptada do texto do vídeo.

Crianças e adultos com autismo podem apresentar de maneira mais ou menos intensa dificuldades no processamento sensorial.  Há pouco tempo, a dificuldade sensorial foi incorporada como critério para o diagnóstico do espectro do autismo. A última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria – o DSM 5, coloca que pessoas com autismo também apresentam hiper ou hiporreatividade aos estímulos sensoriais do ambiente.

Como ajudar pessoas com autismo a lidar com o barulho de fogos de artifícioPessoas com o diagnóstico podem ser hipo ou hiperreativas sensorialmente a todos os sentidos: tato, olfato, paladar, visão, audição, propriocepção e sentido vestibular. Hoje falaremos sobre a hipersensibilidade auditiva respondendo à pergunta: “Meu filho de 4 anos entra em crise com fogos de artifícios. O que posso fazer nesses momentos e como posso ajudá-lo a longo prazo?”

Para tentar entender o que é a hipersensibilidade auditiva, experimente imaginar que você está em uma rua muito barulhenta e que você consegue escutar no volume máximo o barulho dos carros passando em alta velocidade, do carro vendendo algum produto, do caminhão de lixo passando, das pessoas conversando, da mulher andando de salto alto. Imagine todos esses sons chegando ao mesmo tempo em seu cérebro no volume mais alto possível. É isso que acontece muitas vezes com pessoas com autismo que apresentam hipersensibilidade auditiva.

Trabalhamos com muitas crianças que apresentam hipersensibilidade auditiva, conseguimos identificar esta característica quando, por exemplo: a criança coloca suas mãozinhas na orelha tampando os ouvidos; mostra-se desconfortável ou assustada quando, por exemplo, ouve o som de uma moto, do liquidificador, do secador de cabelo ou da máquina de cortar grama, quando começa uma música ou mesmo enquanto conversamos, se aumentamos nosso volume de voz. Muitas pessoas dentro do espectro já nos informaram que elas realmente chegam a sentir dor física quando ouvem alguns sons.

Na passagem do ano, na maioria dos lugares, temos inevitavelmente os fogos de artifício. Se sua criança demonstra desconforto frente a este estímulo, você pode ajudá-la a se preparar dando previsibilidade a ela, explicando o motivo e o momento em que as pessoas soltam fogos (por exemplo, estão felizes com a chegada do novo ano). Como parte de uma dessensibilização gradual, mostre imagens ou vídeos de fogos e festas de Réveillon no Youtube. Comece mostrando o vídeo sem o áudio ou com o volume bem baixo. Repita a exibição do mesmo vídeo, mas aumentando o volume aos poucos. Lembre-se de avisá-la que você está prestes a aumentar um pouquinho o volume. O vídeo já conhecido pode ajudar a criança a se preparar para os sons com um volume cada vez mais alto. Se a criança aceitar aumentar o volume ela mesma, melhor ainda, pois ela vai perceber que tem o controle dessa situação, poderá sentir menos medo e aumentará o volume de acordo com o quanto aquela sensação for suportável. Nos dias seguintes, continue mostrando vídeos de fogos até que a criança demonstre conforto mesmo diante de vídeos desconhecidos e com o volume já mais alto. No dia da festa, você pode pensar em usar um grande fone de ouvido, daqueles que cobrem toda a orelha (veja foto ao lado) e talvez escolher uma música que a criança goste para colocar já nos minutos anteriores à hora da virada do ano. Você pode inclusive buscar um local mais isolado para os minutos de foguetório. Esse local pode ser um cômodo mais protegido da casa ou mesmo o carro da família que, dentro do garagem, com os vidros fechados, pode abafar os ruídos externos. Caso a criança goste de alguma dessas ideias, deixe tudo previamente explicado para ela com o objetivo de tranquilizá-la!

Da mesma forma, dê previsibilidade em relação a outros sons que podem ser desconfortáveis para a criança, por exemplo, avisando que quando a criança chegar no seu quarto e fechar a porta, aí sim você fará a contagem regressiva e ligará o secador de cabelo no banheiro, para que o som fique mais baixo e não a incomode tanto.

Para uma criança que se assusta muito com o barulho de estouro de bexiga ou de balão, podemos ajudá-la a se dessensibilizar colocando a bexiga como parte de uma brincadeira divertida. Por exemplo, vocês podem brincar de colocar as bexigas embaixo de cobertores bem grossos (que abafarão o som do estouro) e então pular em cima para estourá-las. Você também pode explicar para ela que quando pularem vocês irão ouvir um barulho de estouro, mas que ele será bem mais baixo, dando assim previsibilidade. Se você estiver em um quintal ou pátio que permite atividades com água, a brincadeira de jogar bexigas cheias de água no chão pode ajudá-la a manter-se calma diante do estouro pois o som é abafado parcialmente pela água. Fique atento às expressões faciais e à forma como ela reage a esses sons. Caso ela ainda demonstre ficar muito desconfortável com o som, pense em atividades que ofereçam o estímulo de um som parecido, mas que ela não tenha tanto medo, como por exemplo, uma brincadeira na qual você bate palmas e a criança pula dentro de um bambolê como resposta.

Um de nossos garotinhos tinha muito medo de bexiga justamente por conta de elas poderem estourar a qualquer momento. Faltavam poucas semanas para seu aniversário e seus pais queriam muito tentar inserir bexiga na festa. Montamos então uma brincadeira na qual ele tinha um grande pedaço de papelão em formato de agulha, e estabelecemos que cada vez que ele encostasse essa agulhona na bexiga eu faria um barulho muito engraçado. A bexiga não era estourada.  Ele gostou da brincadeira, e a cada vez eu aumentava meu volume de voz e fazia sons de estouro gradativamente mais próximos do que uma bexiga faz ao estourar. Mostrei vários vídeos de pessoas estourando bexigas começando com o vídeo no mudo e depois aumentando aos poucos o volume até chegar ao volume normal. Conseguimos então, ajudá-lo a se sentir confortável com o som e com a imprevisibilidade de que bexigas podem estourar a qualquer momento, e sua festinha teve direito a bexigas!

Se a sua criança com autismo ainda se sente mal em lugares muito barulhentos, procure levá-la a esses lugares nos momentos em que eles são mais tranquilos, por exemplo, ao invés de levá-la no shopping no final de semana, comece levando a criança pela manhã em um dia de semana. Seja a primeira família a chegar na festa de aniversário do coleguinha, e avalie se será melhor sair antes de todos cantarem parabéns. Leve a criança para a escola depois que o sinal tocou. Leve a criança para cortar o cabelo no cabelereiro quando não há nenhum outro cliente para secar o cabelo… Isso irá ajudá-los momentaneamente, e a longo prazo, como comentamos, você poderá trabalhar com a previsibilidade e dessensibilização dentro de atividades interativas nas quais a criança se sinta segura. Procure o apoio de um profissional de terapia ocupacional especializado em integração sensorial que poderá ajudá-lo a aplicar uma dieta sensorial com atividades sensoriais que auxiliem o desenvolvimento e o bem-estar de sua criança.

Em nosso blog, acesse os seguintes artigos com mais dicas para auxiliar as pessoas com autismo a lidar com as imprevisibilidades e estímulos das festas:

Veja também em nosso site a página sobre integração sensorial de pessoas com autismo e as páginas sobre o processamento de informações e a criação de um ambiente propício para o bem-estar e desenvolvimento de algumas pessoas com autismo.

Participe de um de nossos cursos sobre como promover o bem-estar e o desenvolvimento de pessoas com autismo.

Você já passou por situações parecidas com as expostas no vídeo? Faça parte da conversa abaixo comentando sobre suas vivências, dúvidas ou dicas relacionadas ao tema.

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Descontos por participante:

Turma 1 – São Paulo – 17 a 20 de setembro

Investimento por participante:
1º lote: R$1428 até o dia 10/07/20 (15% de desconto).
2º lote: R$1512 até o dia 10/08/20 (10% de desconto).
3º lote: R$1680 até o dia 08/09/20 (valor integral).
Inscrições limitadas e abertas até o dia 08 de setembro de 2020 (terça-feira).

Descontos em mais de um curso: Quem se inscrever em 2 cursos, também tem o desconto de 5% somado ao desconto por prazo de inscrição. Quem se inscrever em 3 ou mais cursos tem o desconto de 10% somado ao desconto por prazo de inscrição. Somados, os descontos podem chegar a quase 25% do valor integral dos cursos. Os descontos serão oferecidos no total do carrinho de compras.

Descontos para grupos: Inscrições para grupos de 2 pessoas têm mais 5% de desconto somado ao desconto por prazo de inscrição, e inscrições para grupos de 3 ou mais pessoas têm mais 10% de desconto somado ao desconto por prazo de inscrição. Somados, os descontos podem chegar a quase 25% do valor integral do curso. Os descontos serão oferecidos no total do carrinho de compras se apenas uma pessoa fizer a inscrição para todos. Para que cada membro do grupo possa fazer o pagamento da inscrição separadamente, mas com o desconto de grupo, entre em contato conosco por email.

Descontos por participante:

Turma 1 – São Paulo – 24 a 27 de março

1º lote: R$1428 até o dia 17/12/21 (15% de desconto).
2º lote: R$1512 até o dia 15/02/22 (10% de desconto).
3º lote: R$1680 até o dia 15/03/22 (valor integral).
Inscrições limitadas e abertas até o dia 15 de março de 2022 (terça-feira).

Descontos para grupos: Inscrições para grupos de 2 pessoas têm mais 5% de desconto somado ao desconto por prazo de inscrição, e inscrições para grupos de 3 ou mais pessoas têm mais 10% de desconto somado ao desconto por prazo de inscrição. Somados, os descontos podem chegar a quase 25% do valor integral do curso. Os descontos serão oferecidos no total do carrinho de compras se apenas uma pessoa fizer a inscrição para todos. Para que cada membro do grupo possa fazer o pagamento da inscrição separadamente, mas com o desconto de grupo, entre em contato conosco por email.