Autismo infantil

Nova pesquisa reforça descobertas para o diagnóstico do autismo infantil a partir da análise de líquidos cerebrais

Autismo infantil
Ressonância magnética de um bebê de seis meses diagnosticado com TEA aos dois anos (à direita) e cérebro de um bebê neurotípico (à esquerda). Carolina Institute for Developmental Disabilities (UNC-Chapel Hill)

Uma nova pesquisa publicada na revista Biological Psychiatry apresenta resultados que podem significar avanços no diagnóstico do autismo infantil a partir da análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como líquor. O estudo foi conduzido por pesquisadores do UC Davis MIND Institute, da Universidade da Carolina do Norte (UNC), junto a outras instituições americanas.

Segundo a pesquisa, a distribuição alterada de líquido cefalorraquidiano em crianças pode prever se elas vão desenvolver o transtorno do espectro autista (TEA). A análise do líquido cefalorraquidiano por meio de ressonâncias magnéticas consiste num possível marcador precoce capaz de indicar chances de desenvolvimento do autismo em bebês a partir dos seis meses de idade.

“Normalmente, o autismo é diagnosticado quando a criança tem dois ou três anos de idade e começa a mostrar sintomas comportamentais, atualmente não há marcadores biológicos precoces”, afirma David Amaral, diretor de pesquisa do UC Davis MIND Institute. Para David Amaral, “a existência de uma alteração na distribuição de fluido cerebrospinal que podemos ver em ressonâncias magnéticas tão cedo quanto seis meses é uma descoberta importante.”

Produzido pelo cérebro, o líquido cefalorraquidiano tem a função de absorver os impactos, evitando assim que o cérebro se choque com o crânio. O papel do líquido cefalorraquidiano, porém, pode ir mais além de seu papel como amortecedor cerebral. Estudos recentes têm mostrado que este líquido pode ter uma função no controle da migração neural e de outros mecanismos associados ao desenvolvimento cerebral, como a eliminação de moléculas “danosas”.

Para Mark Shen, um dos pesquisadores envolvidos no estudo, “O líquido cefalorraquidiano é como o sistema de filtragem no cérebro. À medida que o LCR circula pelo cérebro, ele elimina partículas de resíduos que, de outra forma, se acumulariam. Acreditamos que o LCR extra-axial é um sinal precoce de que o líquido cefalorraquidiano não está sendo filtrado e drenado quando deveria. O resultado é que poderia haver um acúmulo de neuro-inflamação que não está sendo eliminada.”

O novo estudo confirma os resultados de pesquisa anteriormente realizada no MIND Institute em que foi observado em lactentes com aumento do líquido cefalorraquidiano no espaço subaracnóideo (perto do perímetro do cérebro) um maior risco de desenvolver o autismo. O presente estudo procurou validar os resultados anteriores em uma amostra maior de bebês no Infant Brain Imaging Study (IBIS), uma rede nacional de pesquisa de instituições como a UNC, a Washington University, o Children’s Hospital da Filadélfia e a University of Washington.

Para testar se o líquido cefalorraquidiano pode indicar risco aumentado de desenvolvimento do transtorno do espectro autista, os pesquisadores examinaram ressonâncias magnéticas de 343 bebês aos 6, 12 e 24 meses de idade. Neste grupo, 221 bebês tinham irmãos mais velhos com autismo e, portanto, tinham maior risco de desenvolver o transtorno. Os outros 122 sujeitos não tinham antecedentes familiares.

Os bebês que mais tarde desenvolveram o TEA apresentaram significativamente mais líquido cefalorraquidiano subaracnóide aos seis meses do que aqueles que não desenvolveram o transtorno. Entre os bebês de alto risco, aqueles que foram diagnosticados com autismo tiveram 18% mais do LCR subaracnóide. Estas medidas predisseram autismo no grupo de alto risco com cerca de 70% de precisão.

“Quanto mais líquido cefalorraquidiano extra-axial presente aos seis meses, mais graves os sintomas de autismo quando as crianças foram diagnosticadas aos 24 meses de idade”, observou Shen.

Os pesquisadores explicam, contudo, que determinar biomarcadores para o autismo, ou qualquer desordem, pode ser um processo complicado. Muitas vezes, os resultados iniciais dos estudos não são replicados em pesquisas subsequentes. O fato de o estudo atual confirmar a descoberta anterior é um passo significativo no processo de determinação de biomarcadores para o autismo, embora ainda existam muitas perguntas não respondidas sobre essa questão. Por exemplo, os pesquisadores não sabem se o acúmulo de LCR contribui para o autismo ou se é simplesmente um efeito de outra causa ainda desconhecida.

Além disso, o biomarcador não é “sensível” o suficiente para dizer com certeza se uma criança vai desenvolver autismo. No entanto, a ligação aparente entre o aumento do líquido cefalorraquidiano e o autismo pode ter um impacto clínico significativo. Em última análise, com mais estudos nessa área, acredita-se que o líquido cefalorraquidiano poderia ajudar a avaliar o risco de uma criança desenvolver TEA e, possivelmente, outros distúrbios neurológicos.

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